quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Dificuldade do desapego


Quando inicio qualquer tipo de relação, percebo imadiatamente que as pessoas concluem coisas muito semelhantes a meu respeito. Dentre essas conclusões, uma me foi "esclarecida" hoje. Não foi das mais óbvias, porque reconheço essa minha dificuldade irritante: dificuldade do desapego, como costumo definir.
Não há nada que tenha me feito sofrer mais com essa característica do que chegar ao capítulo final de um seriado, especialmente daqueles pelos quais sou apaixonada (House, Six Feet Under e The Sopranos). House é o único que ainda não terminou, mas já está rolando a sexta e última temporada. The Sopranos é uma série maravilhosa, e talvez por isso nunca tenha me arriscado a assistir as duas últimas temporadas (parei na quinta). Já Six Feet Under é minha preferida: assisti duas vezes às cinco temporadas completas e acabo de recomeçar. Me sinto doente com tamanha dependência. Me lembro até hoje o dia em que assisti ao capítulo final de SFU: era uma tarde muito quente de janeiro, eu atirada no sofá bebendo um líquido muito gelado e implorando para qualquer coisa que aquele capítulo final durasse 5 horas. Quando finalmente acabou, me senti perdida. Passei mais de duas semanas não conseguindo alugar ou baixar outros filmes e séries, porque meu interesse ainda residia naquela história, naqueles personagens, naquelas batalhas tão minhas.
Essa Série me marcou profundamente por todos conflitos presentes (muitos deles semelhantes aos meus). Me via em personagens marcantes como a adolescente Claire Fisher, com seu olhar delicado, crítico e questionador. Sua vontade e necessidade de ser e fazer diferente; Brenda Chenowith, a mulher politicamente incorreta, frágil, tranquila, confusa; David Fisher, com seus conflitos entre ser e mostrar, a luta e a busca incessante de autenticidade, misturada a uma certa timidez, caretice, um auto-controle demasiado; Nate Fischer e a vontade louca de viver tudo em doses intensas, as preocupações políticas, a luta para não se entregar aos modos comuns de vida. Todos esses personagens numa trama que mescla um humor delicado e rude; um olhar sarcástico sobre todas nossas besteiras convencionais; a morte sob uma ótica cruel e irônica. É um seriado que questiona o porquê da nossa existência nas coisas mais bobas do cotidiano.
Os seriados são apenas um exemplo da minha dificuldade: escritores, manias, hábitos, rituais... todos são. Acredito que essas manifestações de "apegar-se" são formas de nos sentirmos um pouco mais seguros, contemplados nas mínimas coisas.
Me questiono constantemente sobre esse "sossego", pois essa necessidade de certa "segurança" me limita e impossibilita que eu ande por outros caminhos, outros terrenos. Formas diferentes daquelas que me confortam. Definitivamente, preciso aprender a gostar daquilo que não me faz bem... também.

Deise

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